O ingresso na universidade é desafiador por múltiplos fatores. Se o nível de estresse e os desafios forem maiores do que o estudante consiga suportar, pode ocorrer um desengajamento que, em casos mais graves, pode levar ao abandono da universidade. Um desses fatores refere-se ao nível de competências transversais que o aluno possui no momento de ingresso. O presente estudo buscou avaliar se o nível de competência transversal do estudante no momento do ingresso predizia a probabilidade de abandono do curso no final do primeiro ano. Participaram desse estudo 33 alunos de Psicologia de uma universidade em São Paulo, Brasil. Os dados foram coletados por meio de um formulário eletrônico no início dos anos letivos de 2020 e 2021, utilizando a Escala Autopercepção de Competências Transversais de Trabalho (EACTT), a qual é composta pelos seguintes fatores: Criatividade e resolução de problemas (CRP), Organização e responsabilidade (OR), Raciocínio numérico (RN), Relacionamento interpessoal (TI), Comunicação escrita (CE), Comunicação oral (CO) e Trabalho em equipe (TE). Os alunos ingressantes 2021 apresentaram médias maiores em todos fatores que os de 2020 e essa diferença foi estatisticamente significativa. O nível de OR predisse o abandono ao final do primeiro ano (F(1, 31) = 7.24, p = 0.007; R2ajustado = 0.21, B = -0.11, 95% [IC = -0.20 – - 0.01]) indicando que quanto maior o nível de organização e responsabilidade menor a probabilidade de abandono. O ingresso na universidade aumenta os níveis de exigências por autonomia e gestão das múltiplas responsabilidades que passam a integrar a vida estudantil. Ao mesmo tempo, espera-se que tais competências já façam parte do repertório do aluno. Nesse sentido, o presente estudo parece indicar que a oferta de oficinas e intervenções voltadas para o desenvolvimento de tais competências podem contribuir para a permanência do estudante e maior engajamento nos estudos.